Fórum discute fitossanitários e agronegócio

Em seu terceiro encontro no ano, o Fórum de Entidades de Classe e Instituições de Ensino do Crea-SP reuniu na quarta-feira, 10/07, no auditório da Sede Angélica, cerca de 200 pessoas, entre conselheiros, presidentes e diretores de associações, além de outros profissionais, para a apresentação de palestras sobre defesa fitossanitária e agronegócio, ministradas respectivamente pelo Eng. Agrônomo Guilherme Luiz Guimarães, especialista na área, e pelo Eng. Agrônomo Roberto Rodrigues, ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no período de 2003 a 2006.   

O tema do Fórum em 2019 é “Estratégias da Engenharia e Agronomia para o Desenvolvimento Tecnológico no Brasil do Século XXI” e até o final do ano ainda serão realizados no mesmo local outros quatro encontros com palestras referentes ao assunto. O evento foi transmitido ao vivo pelo canal do Crea-SP no YouTube e pode ser assistido a qualquer momento, clicando aqui.

Compuseram o dispositivo de honra do evento (foto acima, da esquerda para a direita) a diretora de Entidades de Classe do Crea-SP, Engª Agrônoma Ana Meire Coelho Figueiredo; o Eng. Agrônomo Roberto Rodrigues; o presidente do Crea-SP, Eng. Vinicius Marchese Marinelli; o Eng. Agrônomo Guilherme Luiz Guimarães; o diretor de Educação do Crea-SP, Eng. Marcelo Alexandre Prado; e o coordenador do Colégio de Entidades Regionais – CDER-SP, Eng. Mamede Abou Dehn Junior.

O Eng. Agrônomo Guilherme Luiz Guimarães (foto acima), que ministrou a palestra “Inovações e Desafios para a Defesa Fitossanitária”, formou-se em 1971 pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – Esalq/USP e em 2001, pela Unicamp, como gestor ambiental. É mestre em Nutrição Animal e Pastagens com especialização em Bioquímica e doutor em Engenharia Agrícola com especialização em Água e Solo, tendo lecionado Bioquímica de Plantas e Animais na Esalq.

Trabalhando com Regulamentação, Toxicologia e Meio Ambiente voltado para o uso de produtos fitossanitários em diversas empresas do setor, participou direta ou indiretamente de todas as normativas relacionadas ao tema desde 1977.

Há mais de 15 anos participa ativamente de grupo de trabalho sobre resíduos de pesticidas, com grande envolvimento em assuntos relacionados a acordos com a União Europeia e com o Codex Alimentarius (programa criado em 1963, em conjunto com a FAO e a OMS, com o objetivo de estabelecer normas internacionais na área de alimentos, incluindo padrões, diretrizes e guias sobre Boas Práticas e de Avaliação de Segurança e Eficácia), também participando de forças-tarefa dentro do setor privado e junto ao Governo Federal.

Segundo o palestrante, “o assunto da defesa fotossanitária é polêmico, desde quando a agricultura começou a protagonizar nossa economia, lá no Plano Real, mas não podemos deixar de discuti-lo”. Pelo contrário, Guilherme resumiu em sua apresentação “algumas coisas que vão acontecer no setor” e entende que a discussão sobre o tema é emergencial. O Brasil perde cerca de 40% de suas safras para os diversos tipos de praga, doenças e competição de plantas invasoras. A perda no transporte inadequado também é notória. No cômputo geral, o desperdício chega a um terço da produção. A produção de alimentos sofre no mundo em transição climática e a migração do campo para a cidade, de populações carentes de bons produtos, não para e as barreiras não tarifárias tiram o sono do agricultor.

As perdas são menores em países mais desenvolvidos, mas em 2050 o mundo terá uma população de 10 bilhões. Como alimentar todo esse contingente, da qual fazem parte as classes médias cada vez mais ávidas por boa comida? Só a China tirou cerca de 300 milhões de pessoas da linha da miséria. Estudos indicam que o mundo deverá produzir 70% a mais para atender essa demanda, e dessa nova produção 90% virão de países em desenvolvimento. Segundo a FAO, o Brasil deverá aumentar sua produção em mais de 40% para colaborar nesse atendimento. O palestrante concorda com as fontes que apontam para “a verdade dos fatos”: o Brasil goza de condição única para maximizar o uso da terra na produção de alimentos, fibras e energia. “Temos água, terras agricultáveis e tecnologia tropical como ninguém. Então qual é o problema?” – questiona Guilherme. Segundo o engenheiro agrônomo, a solução está na aplicação de inovações e na adoção do manejo integrado de pragas, nanotecnologia, tecnologia de informação na agricultura, biotecnologia e melhor comunicação interna e externa.


Ao final da apresentação, o Eng. Luiz Guilherme recebeu certificado de participação 

“A pior praga é a desinformação” – adverte o palestrante, que aposta no histórico acordo do Mercosul com a União Europeia. Segundo o especialista, “o Brasil pode ter suas tarifas reduzidas ou zeradas na importação de abacate, lima e limão, maçã, melancia, melão e uvas secas, entre outros produtos, mas em matéria de fitossanidade, teremos de nos adequar às regras internacionais”.

Acesse aqui a íntegra da apresentação “Inovações e Desafios para a Defesa Fitossanitária”. 

O futuro é agro

O Eng. Agrônomo Roberto Rodrigues (foto acima), que ministrou a segunda palestra da tarde, é acadêmico defensor do investimento em pesquisa e tecnologia e um dos maiores nomes do agronegócio brasileiro. Também formado pela Esalq/USP, é coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas, foi professor da UNESP e presidiu a Cooperativa dos Plantadores de Cana da Zona de Guariba (Coplana), desenvolvendo trabalho que contribuiu para a criação do Proálcool. Foi secretário de Agricultura e do Abastecimento do Estado de São Paulo, coordenou o Fórum Nacional de Secretários Estaduais de Agricultura e criou a Agrishow juntamente com a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), a Sociedade Rural Brasileira (SRB), a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) e a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). Foi Ministro da Agricultura, trabalhou pelas leis de biotecnologia, dos produtos orgânicos, seguro rural, pelos novos documentos de comercialização, regulamentou a defesa sanitária, ampliou o comércio agrícola brasileiro e implementou as bases de uma agricultura moderna.

Em sua explanação, o ex-ministro e produtor rural afirmou que o Brasil tem todas as condições para ser protagonista da produção de alimentos no cenário global, desde que otimize a área plantada e incentive a integração agropecuária, e compartilhou uma constatação: o mundo não conta mais com lideranças e, consequentemente, plataformas focadas em segurança alimentar. “A ausência de líderes mundiais leva à falta de programas e clareza de horizonte, que não permite que avancemos”, disse o engenheiro, lembrando que, ainda assim, “o Brasil deu saltos tecnológicos fantásticos, graças às descobertas científicas de instituições como a Embrapa, o Instituto Agrônomo de Campinas e o Instituto Biológico”.

Um dos criadores da Agrishow, principal feira de tecnologia agrícola da América Latina, Rodrigues disse estar preocupado com a falta de acesso de pequenos e médio agricultores a equipamentos de ponta. “A tecnologia não pode ser instrumento de expulsão dos pequenos produtores, por isso é importante a implementação de políticas de financiamento para inibir a concentração de renda no campo”, sugere.

Para o ex-ministro, “a existência de órgãos fiscalizadores e certificadores fortes é fator determinante para o crescimento econômico, que leva em consideração três pilares: a logística, os acordos comerciais e os instrumentos de financiamento”. “Para isso – conclui o ex-ministro – precisamos estabelecer estratégias e políticas públicas bem definidas. Tenho esperança de que isso ainda vai acontecer no Brasil”. 

Clique aqui para acessar a íntegra da palestra “O Futuro é Agro”.


Eng. Roberto Rodrigues também recebeu seu certificado de participação


Após as apresentações, os convidados responderam a perguntas do público presente

Produzido pelo Departamento de Comunicação do Crea-SP – DCOM
Reportagem: Jorn. Guilherme Monteiro.
Colaboração: Claudio Porto – Estagiário de Jornalismo.